Lone Ranger, o Cavaleiro Solitário






Lone Ranger é um herói criado para um programa da de rádio lançado em 30 de janeiro 1936 pela WXYZ, criado pela dupla George W. Trendle e Fran Striker (os mesmos responsáveis por Green Hornet (O Besouro Verde) e Challenge of the Yukon).






O programa contava a história de John Reid, o único sobrevivente de um grupo de seis Texas Rangers que foram mortos pelo bando de Bartholomew "Butch" Cavendish, entre os mortos estava Daniel "Dan" Reid, líder do grupo e Tex, irmão de John, em 25 de fevereiro do mesmo ano estreou  o companheiro do Lone Ranger, o índio Tonto, Tonto foi criado para o que o personagem não falasse sozinho (o nome Lone Ranger se refere o fato de ser um sobrevivente de um grupo de Texas Rangers e não por agir sozinho).  Os autores criaram uma ligação com Lone Ranger, dizendo que o pai de Britt Dan Reid, Jr. era filho de Dan Reid e sobrinho do cowboy mascarado.

O programa usava a canção March of the Swiss Soldiers composta por Gioachino Rossinipara a canção de abertura da ópera William Tell (Guilherm Tell em português).

O programa também seria transmitido pelas emissoras Mutual Broadcasting System, NBC Blue, Blue Network e ABC.



Trendle se inspirou inicialmente em dois personagens populares, Robin Hood e o Zorro, assim como Bill Finger em Batman, coube a Fran Striker desenvolver novos elementos do personagem, como as balas de prata e o índio Tonto, para o plot do primeiro episódio, Striker se baseou em outra série de faroeste que havia escrito chamada Covered Wagon Days.


Assim como ocorre com o Zorro, outras possíveis inspiração apontadas, como o seriado The Masked Rider (1919) e o romance The Lone Star Ranger de Zane Grey (1915), baseado no Texas Ranger John Reynolds Hughes (1855-1947), umas das histórias de Hughes falava de uma emboscada sofrida em 1893 por um grupo de Texas Ranges onde o Capitão Frank Jones foi morto.  O livro de Zane Grey ganhou quatro adaptações para o cinema em 1919 (estrelado por William Farnum), 1923 (estrelado por Tom Mix), 1930 (estrelado por George O'Brien) e 1942 (estrelado por John Kimbrough). Em 1949, teve uma quadrinização intitulada The Ranger publicada em Four Color #255 da Dell Comics, roteirizada pelo prolífico escritor e roteirista de quadrinhos Gaylord Du Bois.




Em 1928, foi laçado o filme Daredevil's Reward, estrelado por Tom Mix, embora aja poucas informações, especula-se que o personagem interpretado por Mix seja um Texas Ranger mascarado. Mix também é citado como influência pelo diretor James Jewell, segundo ele, Fran Striker mencionou o ator, um dos primeiros cowboys famoso no cinema.


Lobby Card de Daredevil's Reward (1928)


Em 1925, Tom Mix interpretou Dick Turpin, um fora da lei do século XVIII que foi se tornou um herói na ficção.


Em 2008, com a publicação do livro Black Gun, Silver Star: The Life and Legend of Frontier Marshal Bass Reeves de Art T. Burton sugeriu que um outro personagem real tenha inspirado a criação do herói, Bass Reeves (1838-1910) foi um negro que nasceu escravo e se tornou um  delegado do United States Marshals Service do que hoje é conhecido como estado de Oklahoma, Reeves teria vivido um tempo com índios e cavalgava um cavalo cinza (quase branco). Afirmava ter prendido 3000 criminosos e matado 14, contudo, como em várias histórias do Velho Oeste, há muitas lendas que podem não descrever a realidade. Desde a publicação do livro, a associação com Lone Ranger tem sido feita, Reeves tem aparecido em diversas mídias, tais como: livros, histórias em quadrinhos, filme e programas de televisão. Em 2018, o historiador Martin Grams, Jr. publicou o livro Bass Reeves e The Lone Ranger: Debunking the Myth, onde refuta essa teoria.











Entre 1935 e 1950, estrelou 15 edições da coleção Big Little Book (também chamados de tijolinhos no Brasil, trata-se de uma espécie de pequenos livros ilustrados que muita das vezes usava artes de tiras de quadrinhos) da pela Whitman Publishing Company (uma empresa pertencente a Western Publishing).

Em 1936, a Grosset & Dunlap inciou a publicação de romances protagonizados pelo herói, o primeiro deles escrito por Gaylord DuBois, a editora publicou outros 17 livros até 1956.

Em 1937, o herói ganha uma revista pulp, a publicação teve oito edições, todas escritas por Fran Striker. Nessa mesma época (1937-1938), Dick Sprang (que ficaria famoso por ter ilustrado o Batman) trabalhou como assistente na tira de jornal e roteirizou o programa de rádio.




Em fevereiro de 1938, o personagem chegou aos cinemas em um seriado da Republic Pictures (que também tinha os direitos do Zorro, estrelado por Hal Taliaferro, Herman Brix, Lee Powell, Lane Chandler e George Letz, o seriado mantém o mistério até o último episódio sobre qual desses atores interpretava o verdadeiro Lone Ranger, uma ideia que seria usada também no seriado The Masked Marvel (1943). Tonto foi interpretado por um índio real, o Chief Thundercloud. O cavalo Silver foi interpretado por Silver King, que era o cavalo de Fred Thomson.



 

Em setembro de 1938, surgiram as tiras jornal distribuída pela King Features Syndicate escrita pelo por Fran Striker e ilustrada por Ed Kressy,  logo em seguida, Striker foi substituído por Bob Green, em 1939, a tira passou a ser ilustrada por Charles Flanders sendo publicada até dezembro de 1971.


Em 1939, surge o seriado The Lone Ranger Rides Again, Chief Thundercloud reprisa seu papel de Tonto, Lone Ranger foi interpretado por Robert Livingston (que em 1936 havia interpretado dois heróis mascarados no estúdio, The Eagle no seriado The Vigilantes Are Coming e Zorro no filme The Bold Caballero (primeiro filme colorido do estúdio e primeiro do Zorro a ter diálogos). Silver King foi substituído por Silver Chief (possivelmente foi a única produção em que esse cavalo participou). A falta de fidelidade dos seriados desagradou Trendle, que preferiu que O Besouro Verde fosse adaptado pela Universal.





Lone Ranger também foi adaptado para um curta de animação no final da década, produzido por Roy Meredith e o estúdio Pathegrams Cine.










Em 1940, a David McKay Publications começou a republicar as tiras na revista Feature Book #21, logo depois na  Future Comics de Junho a Setembro de  1940, na King Comics de Junho de 1940 ao Verão de 1950 (Inverno no Brasil, Magic Comics de Dezembro de 1940 a Novembro de 1949, e Ace Comics de Julho 1948 a  Outubro  de 1949.




Em 1945, foi publicado na revista Four Color #82 da Dell Comics (que desde 1938 mantinha uma parceria com a Western Publishing), logo depois nas edições  também republicando tiras de jornal, ainda foi publicado nas edições 98, 118, 125, 136, 151 e 167, a revista publicava edições específicas para cada personagem ou franquia, tanto que publicou o Zorro antes e depois da série de TV da Disney. Em 1948, ganhou uma revista própria, ainda trazendo reprints dos jornais, em março de 1949, Clayton Moore estrelou o seriado Ghost of Zorro, onde interpretava um neto de Zorro/Don Diego, Ken Mason, a atuação de Moore chamou a atenção do agente Antrim Short, que convidou Moore para interpretar Lone Ranger em uma série de TV que estreou em setembro do mesmo ano. Para o papel de Tonto foi escolhido outro índio verdadeiro,  Jay Silverheels, curiosamente, Silverheels e ThunderCloud atuaram juntos em filmes como Romance of the West (1946) e Unconquered (1947).



Em janeiro de1951,  Tonto estrela a edição 321 da revista Four Color, em agosto do mesmo ano na edição 38 de Lone Ranger, foram publicadas novas histórias, escritas por Paul S. Newman e ilustradas por Tom Gill, em outubro, surge a revista Lone Ranger's Companion Tonto, que teve o italiano Alberto Giolitti como um dos desenhistas,  no ano seguinte, Silver ganhou uma revista própria, The "Lone Ranger's Famous Horse Hi-Yo Silver, roteirizada por GayLord DuBois, para a série, o roteirista criou o  índio Keenay, na revista do Lone Ranger foram publicadas as histórias do índio Young Hawk, também escritas por DuBois, contanto com a edição da Four Color, a revista de Tonto teve 31 edições, a de Silver teve 34. 






Lone Ranger nunca tirava a máscara na televisão, em 1952, por uma disputa contratual, Moore foi substituído por John Hart, contudo, em 1954, Moore fez um acordo com o estúdio e voltou a atuar na série, Hart chegou a partir de um episódio de Sergeant Preston of the Yukon (baseado em Challenge of the Yukon), em 1956, Moore e Silverheels estrearam o filme The Lone Ranger, em 1957 a série é encerrado, no ano seguinte, a dupla estrela The Lone Ranger and the Lost City of Gold.

John Hart


Em 1954, Trendle vendeu os direitos de Lone Ranger para Jack Wrather, um empresário do ramo de petróleo. Entre 1956 e 1958, Lone Ranger teve três livros da coleção Little Golden Books da Simon and Schuster. A Dell ainda publicou 3 anuais e a quadrinização do primeiro filme.



Em 1961, foi produzido um piloto de uma nova série, estrelada por Tex Hill, que não foi concretizada. A revista da Dell foi cancelada em 1962, totalizando 145 edições, com o fim da parceria da Western com a Dell, a Western criou um selo para quadrinhos, o Gold Key Comics, assim como aconteceu com o Zorro, as histórias eram reprises do material da Dell, na edição 22, publicada em setembro der 1975 foi publicada a primeira história inédita, ilustrada por José Delbó, um argentino que chegou a desenhar um herói parecido com o Lone Ranger no Brasil, O Vingador da editora Outubro. A revista foi cancelada na edição 28, publicada em março de 1977.





Em 1966, Lone Ranger ganha sua primeira série animada, produzida pela Format Films, Halas and Batchelor Cartoon Films para a CBS, Lone Ranger foi dublado por Michael Rye e Tonto por Shepard Menken, assim como outra série da CBS, The Wild Wild West (James West no Brasil) Por misturar faroeste com ficção científica, é classificada como weird west ou Cattle Punk, subgênero de steampunk, ficção retro-futurista ambientada na Era Vitoriana. A série foi encerrada em 1968.


Em 1971, o quadrinista Jack Kirby ilustrou um jogo de cartas do personagens publicado pela Mattel




Entre 1980 e 1982, Lone Ranger divide um bloco de animações com Zorro em Tarzan: The Tarzan/Lone Ranger/Zorro Adventure Hour da Filmation com as vozes de William Conrad como Lone Ranger e Frank Welker como Tonto, ao todo foram produzidos 28 episódios de 15 minutos cada.









Com o fim da série, Clayton Moore teve poucos papeis no cinema e na TV, ficou associado com o personagem e passou a fazer aparições públicas vestido como o herói, em 1979, Jack Wrather planejou um novo filme live-action do herói e proibiu Moore de se vestir como ele, o filme The Legend of the Lone Ranger foi lançado em 1981, estrelado por Klinton Spilsbury como Lone Ranger e Michael Horse como Tonto e foi um fracasso de público. Ainda em 1981, foi lançada uma nova tira escrita por Cary Bates e desenhada por Russ Heath, a tira foi publicada até 1984.





Em 1984, morre Jack Wrather, no ano seguinte, sua esposa, Bonita Granville vende os direitos para a Southbrook International Television Co.

Em 1989, a Now Comics licencia quadrinhos do Besouro Verde, com roteiros de Ron Fortier e desenhos de Jeff Butler. As histórias criaram uma cronologia unindo ideias das outras produções, apesar de ser uma empresa distinta, mantiveram o parentesco do dois heróis (mesmo que Lone Ranger não tenha sido nomeado nas histórias, indicando que não tinham a licença). Em 1991, foi lançado um jogo de vídeo game produzido pela Konami para Nintendo Entertainment System (também conhecido como NES ou Nintendinho no Brasil).



Em 1993, foi lançada a antologia de contos The Lone Ranger and Tonto Fistfight in Heaven, escritos por Sherman Alexie e publicado pela Perennial/Atlantic Monthly Press, o livro foi republicado em 2003 pela Grove Atlantic Press com mais dois contos inéditos.

Em 1994, os direitos foram adquiridos pela Broadway Video a Topps Comics (que também estava publicando Zorro), lança a revista The Lone Ranger and Tonto, a revista teve quatro edições com roteiros de Joe R. Lansdale e desenhos de Timothy Truman.




Em 2000, os direitos passam a pertencer a Classic Media, que em 2012 seria comprada pela DreamWorks Animation se tornando DreamWorks Classics, em 2016, a DreamWorks Animation seria comprada pela Comcast, dona da NBCUniversal.


Em 2001, a GoodTimes Home Video lançou o DVD The Lone Ranger: The Lost Episodes contendo trechos do seriado de 1938, a animação dos anos 30, episódios da série de TV, comercias de TV com Moore e Silverheels e um documentário apresentado por Moore sobre selos de poupança.



Em 2003, o WB, canal da Warner apresentou um telefilme, que nada verdade era um piloto pra uma série que não foi aprovada, estrelada por Chad Michael Murray e Nathaniel Arcand como Tonto, a história sofre algumas alterações, Lone Ranger é o jovem Luke Hartman, resolve virar o Lone Ranger após a morte do irmão, que era um Texas Ranger.





Em 2005, a série Planetary  de Warren Ellis apresentou Dead Ranger, um pastiche de Lone Ranger naquele universo.

Em 2006, a Dynamite Entertainment lançou uma minissérie de quadrinhos escrita por Brett Matthews e ilustrada pelo brasileiro Sergio Cariello, planejada como uma série de seis edições, a revista fez sucesso e acabou virando uma série regular de 25 edições encerrada em 2011. Em 2008, a editora adquire a licença do Zorro e no ano seguinte, do Besouro Verde.

Em 2008, surge a minisérie de quatro edições The Lone Ranger and Tonto, escrita por Brett Matthews e Jon Abrams e ilustrada por Marco Guevara. Com licença do Besouro Verde, a editora pode usar o parentesco dos dois personagens. Em 2011, fez um inusitado crossover com o Zorro: The Lone Ranger: The Death of Zorro, escrita por y Ande Parks  e ilustrada por Esteve Polls, a editora continua publicando séries das três franquias, em 2012 publicou a minissérie Masks com roteiros de Chris Roberson e arte de Alex Ross, nela O Besouro Verde encontra diversos heróis como The Spider, O Sombra, Zorro (Rafael Vega, descendente de Don Diego De La Vega), Miss Fury, Morcego Negro, Green Lama e Black Terror.


Ainda em 2011, foi lançado um filme do Besouro Verde estrelado por Seth Rogen como Britt Reid/Besouro Verde e Jay Chou como Kato, em uma cena, aparece um poster do Lone Ranger.



Em 2012, a Moonstone Books consegue a licença para publicar livros do herói, publicando romance The Lone Ranger: Vendetta, escrito por Howard Hopkins e a antologia The Lone Ranger Chronicles,  com contos de Johnny. D Boggs, James Reasoner, Mel Odom, Bill Crider, Matthew Baugh, Tim Lasiuta, Joe Gentile, Paul Kupperberg, Dennis O'Neil, Kent Conwell, David McDonald, Thom Brannon, Troy D. Smith, Chuck Dixon e Richard Dean Starr, o livro conta com alguns crossovers com personagens reais como Wyatt Earp e Doc Holliday e o fictício Cisco Kid o conto "Hell Street", escrito por Joe Gentile, criado em 1908 pelo escritor O. Henry como um bandido no conto The Caballero's Way, foi reformulado nos cinemas se torando um herói mexicano (no original em anglo-americano) gerando um programa de rádio, uma série de TV estrelada por Duncan Renaldo (que havia interpretado Cisco em filmes) e Leo Parrillho e diversas séries de quadrinhos. ao que tudo indica, o herói havia aparecido na minissérie  The Cisco Kid: Gunfire & Brimstone de 2005, escrita por Len Kody e ilustrada por Dennis Calero e Matt Camp, mas não foi nomeado.

Ainda em 2012, a Dynamite publica a minissérie em quatro edições Snakes of Iron, escrita por Chuck Dixon e ilustrada por Steve Polls.





Snakes of Iron #2, arte de Dennis Calero



Em 2013, a Disney lança um filme do Lone Ranger, estrelado por Armie Hammer como Lone Ranger/John Reid e Jonny Depp como Tonto, o filme foi feito pela mesma equipe de Piratas do Caribe, o diretor Gore Verbinski, o produtor Jerry Bruckheimer e o roteiristas Ted Elliott e Terry Rossio (que também roteirizaram The Mask of Zorro e The Legend of Zorro, estrelados por Antonio Banderas e Catherine Zeta Jones), além do escritor e roteirista Justin Haythe. Gore Verbinski havia dirigido o animação Rango, que parodia filmes de faroeste (sobretudo os italianos, também conhecidos como westerns spaghettis).

Para compor o visual de Tonto, Depp afirma que se inspirou numa obra do pintor Kirby Sattler.

Apesar dos esforços, o filme foi um fracasso, a Disney chegou a explorar os personagens no jogo Disney Infinity e gerou uma série de LEGO.












Possivelmente por um desentendimento com a Dynamite, a Disney não lançou uma tradicional quadrinização do filme, contudo, a Panini Comics publicou uma paródia com Mickey como Lone Ranger e Pateta como Tonto chamada Top Ranger, ewscrita e ilustrada por Marco Gervasio, publicada na revista Topolino 3005, no Brasil foi publicada como O Ratoeiro Solitário e em Portugal como o Rato Mascarilha (nome do Lone Ranger por lá).






Em 2016, a Dynamite lança a série "The Lone Ranger Meets the Green Hornet: Champions of Justice, escrita por Michael Uslan e ilsutrada por Giovanni Timpano.











Em 2017, na série de TV Timeless foi lançado o episódio "The Murder of Jesse James", onde Bass Reeves aparece interpretado por Colman Domingo, ao lado de outro Marshall, Grant Johnson, um nativo americano, Wyatt_Logan interpretado por Matt Lander, diz que Johnson é uma inspiração para o Tonto (ou seja, ainda com a teoria com Reeves inspirou o herói) e o mesmo fica ofendido, já que sabe o significado da palavra Tonto em espanhol.

Em junho de 2018, a Moonstone publica a antologia The Lone Ranger and Tonto: Frontier Justice com histórias de Chuck Dixon, Johnny D. Boggs e Troy D. Smith.



No Brasil

Em 17 de dezembro de 1938, as tiras do herói estreiam no país, como Zorro nas páginas do Globo Juvenil, talvez pela dificuldade de se traduzir o termo ranger, que pode ser usado para defini um tipo de agente da lei do Velho Oeste e até mesmo guardas florestais, conforme mencionei anteriormente, o uso do Zorro para nomear personagens de filmes e séries não era feita não apenas no Brasil, muitos desses eram de faroeste alguns de capa e espada. Exemplos: O filme Ridin' the Trail (1940), estrelado por Fred Scott recebeu o título de El Zorro Negro na Argentina, no filme King of Bullwhip (1950), o cowboy Lash Larue (Don Chicote no Brasil) enfrenta o mascarado El Azote num duelo de chicotes (uma especialidade de Larue), na Itália, o filme se chamou La Pistole di Zorro, o filme ganhou uma adaptação em Fawcett Movie Comic #8 (dezembro de 1950) e publicada no Brasil em O Globo Juvenil #2079 (setembro de 1953). O filme The Bandit queen (1950), estrelado por Barbara Britton foi chamado de La figlia di Zorro na Itália e La hija del Zorro na Venezuela.









O primeiro seriado da Republic estreou no Brasil em 1939 com o título O Guarda Vingador, no ano seguinte, o segundo, The Lone Ranger Rider Again recebeu o nome de A Volta do Cavaleiro Solitário.


Il segno del coyote (1963) virou Zorro, a fekete lovas e Zoro Maskeler Asagi na Turquia, o filme baseado na série de livros de bolso El Coyote, criada pelo escritor espanhol José Mallorquí Figuerola em 1943,

O personagem seria publicado como Zorro nas revistas do jornal O Globo e da RGE (editora do mesmo grupo) "Almanaque de O Globo Juvenil", "Novo Gibi" e "Novo Globo Juvenil", O Gibi Tri-Semanal e O Guri (dos Diários Associados), sendo publicado em Novo O Globo Juvenil  da RGE até 1953. 






Em 1952 a EBAL registra a marca Zorro para jornais, revistas e publicações periódicas em geral, em 1954, ela lança a revista Zorro, no primeiro número, trazia o subtítulo As Aventuras do Lone Ranger, mas logo depois foi abandonado. A série TV também seria lançada como As Aventuras do Zorro (concorrendo com o Zorro da Disney), o primeiro filme recebeu o título O Justiceiro Mascarado e o segundo Zorro e o ouro do Cacique, outros nomes usados foram Kid Roger e Cavaleiro Mascarado.


As tiras foram publicadas no suplemento do "Jornal do Rio de Janeiro", com o nome de Cavaleiro Solitário.

Assim como aconteceu com o Zorro, a EBAL ficou sem material para publicar e chegou a encomendar histórias locais, como Milton Sardella, que trabalhou em séries como Fantasma", "Mandrake", "Cavaleiro Negro", "Nick Holmes" na RGE.

Floriano Hermeto Almeida Filho (FHAF), que trabalhou em O Judoka, chegou a desenhar sete páginas de uma história do cowboy, mas não foram publicadas, somente em 2018, foram publicadas no O Judoka por FHAF organizado pelo jornalista Francisco Ucha em parceria com a AVEC Editora de Artur Vecchi (filho de Lotário Vecchi da extinta Editora Vecchi.



O Jornal do Rio de Janeiro, 8 de março de 1959


Conforme mencionei anteriormente, o nome pode ter sido mantido por causa dos seriados da Republic do gênero faroeste:


1) Em Zorro Rides Again de 1937, John Carroll interpreta um descendente de Don Diego que assume o manto do cowboy mascarado Zorro (ele nem ao menos usa uma espada rapieira).

2) Em Zorro's Fighting Legion (A Legião de Combate do Zorro) de 1939, estrelado por Reed Hadley como Zorro/Don Diego, Zorro atua mais como cowboy e tem um cavalo branco sem nome.

3) Em Son of Zorro de 1947,  George Turner interpreta outro descendente do Zorro.


4) Conforme mencionei no começo do texto, Robert Livingston e Clayton Moore interpretaram os dois personagens.

5) O seriado Zorro's The Black Whip (O Chicote Negro do Zorro) de 1944 era Zorro apenas no nome, nele ,Linda Stirling interpreta Barbara Meredith/The Black Whip (O Chicote Negro em português).

6) Sem a licença do Zorro (que havia ido para a Disney, embora só tenha produzido a série em 1957) a empresa ainda produziu os seriados Don Daredevil Rides Again, de 1951, e Man with the Steel Whip, de 1954, que usavam cenas de Zorro's The Black Whip. Em Don Daredevil Rides Again, Ken Curtis interpreta Lere Hadley/Don Daredevil em Man of Steel Whip Richard Simmons interpreta Jerry Randall/El Látigo (O Chicote em português), isso foi percebido em outros países,  na França, Don Daredevil Rides Again foi lançado como Zorro le diable noir e Man with the Steel Whip como Le Triomphe de Zorro. Curiosamente, El Látigo e El Látigo Negro foram duas série de filmes mexicanos com heróis parecidos com o Zorro, esses personagens conhecidos no TVTropes como Captain Ersatz (sendo ersatz uma palavra alemã que significa substituto). The Vigilantes Are Coming,  seriado onde Livingston  interpretou The Eagle pouco antes de ser o Zorro em The Bold Caballero foi lançado na França em 1949 com o título Zorro l'indomptable, no México, o ator Luis Aguilar de El Látigo Negro, também estrelou El Zorro escarlata, El halcón solitario, Los cinco halcones (que lembra o primeiro seriado do Lone Ranger) e El Ranchero Solitario. Na Itália, o filme El jinete solitario' en El valle de los desaparecidos foi chamado de Zorro Nella Valle dei Fantasmi.

O filme e os seriados do Zorro pela Republic Pictures







Em Portugal, ficou conhecido como o Bronco Bustin, Máscara Negra, Zorro (por causa das publicações da EBAL), O Mascarilha, curiosamente, publicaram uma série francesa de faroeste, influenciada pelos seriados da Republic, chamada Zorro, ilustrada por André Oulié foi publicada como O Mascarilha, mostrando que não só no Brasil, esses personagens eram confundidos, essa série foi publicada no Brasil no jornal Correio da Manhã nos anos 50.


Edição britânica da revista francesa Zorro, publicada em Portugal como O Mascarilha

O Lone Ranger inspirou alguns personagens brasileiros, em 1943, surge na Rádio Farroupilha do Rio Grande do Sul, O Vingador, criado por Péricles do Amaral, patrocinado pela Colgate-Palmolive, o personagem ainda ganharia um jornal com tiras ilustradas por Fernando Dias da Silva, O Vingador tinha o cavalo Blackie e era auxiliado por um índio chamado Calunga.

No final da década de 1950, surge a série de Juvêncio, o justiceiro do sertão da Radio Piratininga de São Paulo, que basicamente transportava as histórias do Velho Oeste para o Nordeste brasileiro, a ideia não era nova, em 1953 havia estreado Jerônimo, o Herói do Sertão criado por Moysés Weltman, Radio Nacional do Rio de Janeiro. enquanto Jerônimo teve filmes, telenovelas e quadrinhos, Juvêncio teve apenas uma revisa em quadrinhos pela editora Prelúdio (uma editora que publicava literatura de cordel) com roteiros de Gedeone Malagola, Helena Fonseca, R. F. Lucchetti,  Fred Jorge e Reinaldo Santos (produtor da série) e desenhos de Sérgio Lima, Rodolfo Zalla, Eugênio Colonnese e Edmundo Rodrigues



Na Austrália, Michael Noonan criou o programa de rádio Twilight Ranger inspirado nos dois personagens e logo ganhou uma versão em quadrinhos desenhada por  Keith Chatto e publicada pela Apache Comics.


No Reino Unido, uma versão de Billy the Kid publicada entre 1952 e 1859 com o subtítulo Lone Avenger foi bastante influenciada por Lone Ranger.

Em 1961, a editora Outubro lançou um novo Vingador, criado Hélio do Porto, roteirizado pelo próprio Porto, Helena Fonseca e Gedeone Malagola e ilustrado por Walmir Amaral (que ilustrou O  Cavaleiro Negro da Marvel para RGE), Osvaldo Talo, Miguel Lima, Ernesto Capobianco, Juarez Odilon, Edmundo Ridrigues, Nico Rosso, Lyrio Aragão, Fernando de Lisboa e José Delbó. A série foi publicada até 1966, sendo republicada em 1972 pela Taika (novo nome da Outubro).




Em 1970, a Ebal publica a revista especial Chamada Geral - Epopéia, roteirizada por Pedro Anísio e desenhada por Eugênio Colonnese . Nela é publicado um dos maiores crossovers das histórias em quadrinhos. Aparecem: Zorro (Lone Ranger), Popeye, Mickey, Superman, Batman, Gavião Negro, Elektron, Robin, Aquaman, Capitão América, Demolidor, Buck Rogers, Pernalonga, Tom & Jerry, Hortelino Troca-Letras, Wilma Deering, Novos Titãs, O Judoka, Lúcia, José de Anchieta, Fernão Dias Pais, Dom Pedro I, Chapeuzinho Vermelho, Flash Gordon, Dale Arden, Zarkov, Tarzan, Jane, Chita, Pedro Álvares Cabral, Dr. Huer, Lois Lane, Dom João, Branca de Neve e os Sete Anões, Lobo Mau, Peter Pan, Aqualad, Superboy, Jonathan Kent, Martha Kent, Sharon Carter, Agente 13, Supermoça (Pré-Crise), Arqueiro Verde, Lanterna Verde II, Mulher-Maravilha, Minnie, Olívia Palito, Mandrake, Lothar, Narda, Moça-Maravilha, Kid Flash, Thor, Otacílio Costa d´Assunção Barros (o Ota) e Adolfo Aizen.


Em 1971, tiras produzidas por Paul S. Newman e Charles Flanders foram publicadas na revista Super Plá, curiosamente, o Zorro capa e espada aparece na capa desenhada por Primaggio Mantovi, mas não foi publicado na revista. Em 1983, a Rede Record exibiu a série animada da Filmation com o título Cavaleiro Solitário.



A EBAL intercalou revistas do Zorro até 1985, publicando os dois personagens e um terceiro em Zorro de bolso, uma série italiana que realmente tinha esse nome (vários filmes do Zorro, possível sem licença foram produzidos no país, alguns deles do subgênero western spaghetti).




Em 1997, é lançada a última revista em quadrinhos do Lone Ranger no país, dessa vez com o seu nome original.  A revista foi publicada pela Comix Book Shop, uma gibiteria de São Paulo e trazia tiras produzidas por Cary Bates (roteiros) e Russ Heath (desenhos) de 1981 a 1984.  Tal revista teve duas edições e foi vendida apenas em gibiterias e mala direta. Ainda em 1997, é lançado o filme Buena Sorte, um western brasileiro ambientado no Texas, mas gravado no interior de São Paulo, no filme, o ator Caio Junqueira se veste como Lone Ranger.






Em 2005, a Rede Globo estreou a telenovela Bang-Bang de Mario Prata, ambientada no velho oeste. A trama tinha a participação Sidney Magal como Zorroh, Zorro era uma mistura de Zorro e Lone Ranger: Zorroh era um ex-espadachim e barbeiro, tinha como parceiro o índio Tonto, interpretado por Eliezer Motta. Questionado sobre o nome, o espadachim afirmava que adicionou a letra "h" por causa da numerologia. Curiosamente, uma foto de Antonio Banderas como Zorro podia ser vista no cenário da telenovela. Essa não foi a única paródia da emissora que evocava ambos os personagens, na temporada de 2001 da Escolinha do Professor Raimundo, o ator Fernando Wellington interpretava o aluno Antônio Zorra, que usava uma roupa preta, sem máscara e falava como um personagem de faroeste e chamava o professor de Ray.

Também em 2005, a editora Noblet publicou a revista Cavaleiro do Oeste de Paulo Hamasaki (1941-2015), uma segunda edição foi prometida, mas nunca chegou a ser lançada, nela há o cowboy Vingador Mascarado, nitidamente inspirado no Lone Ranger e nos demais cavaleiros misteriosos. Hamasaki chegou a desenhar histórias do Zorro com roteiros de Franco de Rosa para EBAL em 1981, curiosamente, no ano seguinte, Franco também criou o seu cowboy mascarado inspirado no Zorro, mais um chamado Vingador, publicado no Almanaque do Faroeste da Grafipar. Em 2023, a Editora Criativo publicou Graphic Book: Franco de Rosa - Primórdios 1980 a 1982 com uma história do Vingador e outra do Zorro pela dupla. Eem GraphicBook Paulo Hamasaki Primórdios, a história do Vingador Mascarado de Hamasaki.







Em 2013, o filme da Disney foi lançado como O Cavaleiro Solitário. A Classic Line lançou o DVD da série de TV como Zorro, o Cavaleiro Solitário, ela ainda lançou o seriado O Chicote do Zorro e o filme A Marca do Zorro com Tyrone Power, já o seriado A Legião de Combate do Zorro foi lançado pela BrookFilm.

Ver também

Fontes 




Myth Debunked: Bass Reevces was not The Lone Ranger

Quem são os caubóis negros esquecidos por Hollywood?

Novos projetos e pilotos – Maio de 2015 – Parte 2

75 Years of the Lone Ranger

The Lone Ranger - Jornal do Cinema


O Cavaleiro Solitário que não era o Zorro


Matéria: Zorro e Cavaleiro Solitário - Uma Confusão à Brasileira

Crossover entre Zorro e Cavaleiro Solitário

Os implacáveis quadrinhos de faroeste

Grandes personagens das HQs marcaram presença no suplemento Super PLÁ


Comentários

Ney Bellas disse…
EXCELENTE post! Mas confesso que é MUITA informação pra guardar, mas considero um material ótimo pra futuras pesquisas e referências. Obrigado!
Unknown disse…
matéria completa, digna de elogios, parabéns pela pesquisa.
jorge cezar disse…
Muito bom o material. Mas, continuo sem entender o porque no Brasl chamarem de Zorro, o Cavaleiro Solitário .
Quiof disse…
Não há uma explicação correta, mas algumas pistas podem ajudar a entender, após o sucesso do filme com Douglas Fairbanks, o nome Zorro ficou famoso, vários personagens mascarados ou espadachins acabariam sendo renomeados como Zorro, não só aqui, mas em outros países, há também a Republic Pictures, que adaptou ambos os personagens em filmes e seriados, inclusive com o mesmo ator fazendo os dois, Robert Livingstone, fora que depois de ser o Zorro num seriado de faroeste, o Clayton Moore virou o Lone Ranger da DC, há também p fato que a palavra ranger não ter uma tradução correta pra Zorro, os tradutores do Globo Juvenil deviam ter essa dificuldade e aproveitaram o nome Zorro, vale lembrar que hoje é impossível, Zorro é uma marca da Zorro Productions, então usar pode dar problemas.