Os primeiros passos de um Capitão...







Texto de Greg Theakston , publicado em Captain America Collectors' Preview (1995) e republicado pela Editora Abril em Capitã América #200, janeiro de, tradutor não creditado.








Como muitas das grandes lendas, o Capitão América é fruto de um lampejo de inspiração burilado até a perfeição. O Vingador Estrelado da Marvel: foi criado por Joe Simon e Jack Kirby, uma das maiores duplas das histórias em quadrinhos. Jack e Joe se conheceram na primavera de 1940. No final do verão, Simon era editor da Timely Comics, e Kirby, o diretor de arte. Assim que ocuparam seus cargos, os dois começaram a trabalhar na história de origem de Marvel Boy para a revista Daring Mystery Comics #6. Se existe um lugar onde as primeiras sementes do Capitão América foram plantadas, foi nas histórias de Marvel Boy. Criado por Joe Simon, o uniforme do personagem era bem semelhante ao do Capitão, das botas de bucaneiro às luvas de punhos longos, passando pela cor azul-escuro. Esses conceitos básicos de design provavelmente estavam na mente de Simon quando ele criou o uniforme do Capitão América, seis meses depois. 




Em 1940, a Segunda Guerra Mundial estava entrando em ebulição, e o diretor editorial da Timely, Martin Goodman, resolveu que era o momento certo de criar um herói patriótico. Foi então que Simon criou o uniforme do novo herói, e Kirby desenhou sua primeira história, bem como a capa da primeira edição. Todos concordaram que Hitler seria mostrado na capa recebendo um soco do Capitão, e, para escapar do risco do ditador ser assassinado antes da revista chegar às bancas, Goodman exigiu que o material fosse encaminhado rapidamente à gráfica. Resultado: a primeira edição chegou às bancas em 20 de novembro de 1940 e se esgotou em uma semana. A primeira alteração importante no uniforme do Capitão América foi o acréscimo do par de asas nas têmporas do herói, inexistentes nos esboços originais feitos para as primeiras divulgações do personagem. A mudança seguinte foi resultado de pressões externas: John Goldwater, diretor editorial da MLJ Comics (atual Archie), declarou que o Capitão se parecia com um personagem seu, The Shield, especialmente quando o herói erguia seu escudo, originalmente triangular, pintado com estrelas e listras. Em vez de correr o risco de ser processada, a Timely mudou o escudo antes da segunda edição ir para a gráfica. "Fiquei contente com a mudança",afirmou Kirby certa vez. "Eu nunca gostei do primeiro escudo. O modelo redondo tem um desenho melhor e é mais prático. E, claro, a parte mais importante é que ele pode ser lançado, aumentando o poder do personagem." Já na primeira edição, o Capitão América ganhou um assistente, o adolescente Bucky Barnes. Embora nunca tenha sido explicado, Bucky conseguia acompanhar um super-soldado, nocautear nazistas com o dobro de seu tamanho e derrotar vilões mascarados sem muito esforço. "Olhando retrospectivamente, o parceiro adolescente do Capitão parece bem idiota", recorda Simon,"mas, naquela época, era uma coisa quase esperada. Portanto, nós seguimos a moda". O sucesso obtido pelo primeiro número da revista incentivou Goodman a prosseguir a todo vapor. Para produzir uma revista de sessenta e quatro páginas todos os meses, Simon e Kirby contrataram uma equipe de profissionais escolhidos a dedo. O primeiro grupo incluía AI Avison e AI Gabriele, que haviam frequentado a escola de arte juntos. Avison e Gabriele arte-finalizavam uma boa parte da revista Captain America, e finalmente assumiram as histórias doVisão (em Marvel Mystery Comics) quando Simon e Kirby saíram da empresa. Outros colaboradores daquelas primeiras edições foram os arte-finalistas Reed Crandall, um artista que continuaria produzindo quadrinhos de alto nível para todas as editoras durante os trinta anos seguintes e Syd Shores, responsável pelos detalhes na figura e no rosto do Capitão. 



A revista incluiria também trabalhos de um novato chamado Stan Lee. "A primeira coisa que escrevi foi um texto para Captain America # 3", afirmaria ele mais tarde. "Foi apenas uma página de texto, mas até hoje eu me orgulho dela." Um ingrediente importante no suesso de Captain America Comics  e na maioria dos outros títulos da Timely, era o maravilhoso letreiramento de Howard Ferguson, cujo estilo era tão impressionante que conferiu à linha de revistas da editora um visual único e diversificado. Ferguson acompanhou Simon e Kirby por onde quer que eles fossem durante duas décadas, e a Timely continuou a utilizar seu estilo visual por muitos anos depois de sua saída. Durante o primeiro ano, Simon e Kirby aperfeiçoaram sua abordagem do super-herói estrelado, e as demais editoras tomaram conhecimento das novidades. Jack e Joe fizeram experiências com quadros de página inteira e páginas duplas, Iayouts de páginas em formato de quebra-cabeças e figuras que saltavam por cima dos limites dos quadros. Os outros editores jogavam a Captain America Comics nas pranchetas de seus artistas e exigiam que eles imitassem o estilo. Simon e Kirby passaram para o centro dos acontecimentos,e foram coroados como os reis das histórias de ação. Assim que os dois aperfeiçoaram a fórmula, Goodman deu sua aprovação para novos títulos. Nesta época, os editores da rival DC Comics resolveram reunir um grande número dos seus principais super-heróis num único título chamado All Star. O sucesso desta publicação não foi ignorado por Martin Goodman, que imediatamente solicitou um título similar para sua empresa. Assim, foi criada a All Winners Comics, estrelada pelos principais heróis da Timely: Capitão América, Tocha Humana e Namor. Os dois primeiros números de All Winners contêm histórias do Capitão realizadas pela equipe de Simon e Kirby e, por causa de sua raridade e alto preço, esses episódios ficaram conhecidos como as "histórias perdidas" da dupla. 



The Cose of the Hollow Men, história do Capitão publicada em All Winners # 1 (1941), é típica de Simon e Kirby: apresenta estranhos fatos científicos, sabotagem, um cérebro nazista, e tem até uma aparição do próprio Hitler. Como ocorria com inúmeras histórias do Capitão, o tema foi tirado dos filmes populares de horror dos anos 30. A história continha também elementos dos pulps dessa década. Hollow Men é um exemplo clássico de história produzida por uma equipe 
de artistas. De acordo com Gabriele, freqüentemente Simon e Kirby preparavam a construção básica da história e a entregavam para a equipe. 

Syd  Shores arte-finalizava as figuras e rostos do Capitão América e de Steve Rogers, Avison e Gabriele contribuíam com cenários e arte-final secundária. Como o próprio Jack declarou: "Assim que o trabalho estava finalizado, eu pegava pincel e tinta e repassava a coisa toda para dar a tudo um visual mais coerente". Quando All Winners n° 1 estava chegando às bancas, Simon e Kirby estavam deixando a Timely. Eles acabaram trabalhando para a maioria das outras editoras de quadrinhos, mas o Capitão América continuou sendo sua criação favorita e o personagem que era mais esboçado para os fãs. 


Mistério Histórico  


Durante anos, pessoas que iam à casa de Jack Kirby falavam a respeito de uma arte que haviam visto lá. Seria aquilo uma versão alternativa para o uniforme do Capitão América? Um dia, quando eu estava ajudando a organizar os arquivos de Jack, dei de cara com o lendário desenho. Não se sabe por que ele foi produzido. Stan não se lembra dele. Kirby não sabia por que o havia feito. Mas, em vez de questionar tamanha dádiva, vamos apreciar como seria o visual do nosso Capitão se as coisas tivessem sido um pouco diferentes. 
— Greg Theakston 








Comentários adicionais

Colúmbia, personificação americana que assim como o Tio Sam, usa um escudo em algumas ilustrações, assim como a Britânia, símbolo da Grã-Bretanha.

Columbia
Columbia por Constantino Brumidi


Britânia


Em Captain America #3, Stan Lee fez sua estréia como roteirista e introduziu o conceito do "escudo-bumerangue" em um text story, umas espécie de conto ilustrado "Captain America Foils the Traitor's Revenge".




Simon e Kirby criaram outros personagens que lembrava o Capitão América, como o Guardião para a DC Comics em 1942, resgatado por Kirby nos anos 70, quando criou o Quarto Mundo e Fighing American para a Crestwood Publications, editora fundada pelos dois em 1954.






Os dois seriam contratados pela Archie para reformular o Shield em 1959, nessa nova versão, ele se chama Lancelot Strong.


Para Brian Cronin do site Comic Book Resource, Kirby reutilizou o design encontrado por Theakston em Captain Glory, publicado pela Topps Comics em 1993, já para Duy Tano do blog Comics Cube, o visual teria foi reaproveitado em Lancelot Strong.





Simon obteve os direitos de The Fly (e possivelmene de Lancelot Strong), outra criação da dupla para a Archie e com seu filho Jim, criaram um novo herói com tema da bandeira, o ShieldMaster, na década de 2010, os personagens de Simon passaram a ser publicados na revista francesa Strange da Organic Comix.
Atualmente, Jim e seu filho Jesse Simon possuem o Simon Studios e publicam ShieldMaster via Kickstarter.





Leitura adicional

Gerard Jones. Homens do Amanhã - geeks, gângsteres e o nascimento dos gibis, Conrad Editora, 2006

Howe, Sean. Marvel Comics : a história secreta, Leya Brasil, 2013


Link úteis


Livro que homenageia Jack Kirby busca colaboradores no Catarse

Kirbyans - Artistas brasileiros homenageando um artista universal

Capitão América - A origem nos quadrinhos

A criação do Homem-Aranha nos quadrinhos

Patriotic Characters - Public Domain Super Heroes

Captain Patriot - Tv Tropes

Kid Sidekick - Tv Tropes

The Defender

Jack Kirby - Lambiek

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